Eles se olharam no fundo dos olhos e perceberam que não dava mais pra continuar. O mais aventureiro tinha nos olhos a certeza de que não daria pra seguir em frente com tal sentimento brando, já que o mais apaixonado tinha nos olhos aquele brilho que antecede as lágrimas, essas as quais estavam chegando pois sabia que aquela árvore que cresceu dentro de seu coração e já iria colher a segunda safra de amor, seria esquecida e acabaria morrendo pois já não poderia mais ser cuidada.
Não foi preciso conversa alguma após aquela troca de olhares para entender que cada um seguiria seu caminho dali em diante. O mais apaixonado pensava que jamais poderia esquecer aquele aventureiro que partia rumo a plantar outras sementes em outros corações, sabendo que não se preocuparia em cuidar do que deixaria crescendo para trás.
Aquele com as lágrimas a caminho dos olhos, de algum modo, sabia que seus sentimentos não iriam embora tão facilmente. Já o outro, que acreditava ser o dono das certezas, e o fato de saber que ali não era seu lugar no momento considerava ser uma delas, não conseguia dizer se indo embora poderia esquecer de tudo. Por mais que entendeu o fato de ali não ser mais seu lugar, antes mesmo de perceber que a hora de partir estava próxima, traduziu as lágrimas que se condensavam no olhar do seu amado emocionado como um sentimento de falta, mas que crescia dentro dele mesmo.
O aventureiro, que não podia se prender a alguém, que não se via em uma relação tranquila e duradoura, que precisava conhecer o mundo, conhecer as pessoas, aproveitar de novas experiências, tinha dúvida se aquela falta que ficou em um canto de seu peito nunca sumiria.
Foi então que os olhos castanhos foram embora com a certeza de que deviam ir, mas carregando no coração um sentimento de falta. Falta de algo que mal acabou de ficar alguns metros um do outro, e que em pouco tempo ficaria quilômetros, horas, dias, meses e até mesmo anos de distância. Enquanto isso, os olhos verdes, que brilhavam anunciando as lágrimas que tomariam conta dos seus próximos dias, sabiam que era o certo a se fazer. Aquele sentimento que crescia dentro acabaria não se sustentando e findando sozinho. Mas, de toda forma, lembraria pra sempre dos olhos castanhos, pois aquela árvore que cresceu no seu coração já não teria mais safras de amor, mas seu tronco, seus galhos e suas folhas ficariam fortes dentro de seu peito, o lembrando eternamente de alguém o qual acreditou que um dia ficaria para sempre, mas que numa troca de olhares entenderam que suas vidas seguiriam rumos diferentes.