Dependência

fernando
2 min readOct 29, 2020

Comecei aos poucos, usando devagar. Eu lembrava como foram as experiências anteriores com as outras, eu gostei, repeti várias vezes, sempre ouvindo as pessoas em volta falando pra tomar cuidado, que aquilo não ia acabar bem.

Nessa vez foi diferente, ignorei todos e me afundei nela. Meu emocional estava mal, tanta coisa acontecendo, tava tudo uma loucura. Mas ela apareceu, e conforme eu usava parecia que todas as coisas ruins iam pra longe. A sensação que eu tinha era que no meu corpo haviam vários buracos, e que quando eu a usava cada vazio presente na minha pele era preenchido. Aquela sensação me abraçava e me acarinhava de uma maneira tão boa, mesmo que momentaneamente.

Depois que o efeito dela passava eu me sentia mal, detonado, queria ficar deitado e nunca mais sair dali. As vozes me irritavam, a luz me atrapalhava, nem comer eu queria. Só pensava em quando poderia tê-la de novo pra ter toda aquela sensação temporária de paz de volta.

Isso era o que a droga fazia comigo, a droga que é o amor. Não uma droga no sentido pejorativo da palavra, mas no sentido químico mesmo. O amor me causou dependência. Me afoguei num sentimento que me salvava dos problemas que eu tinha mas que por outro lado criava uma ferida cada vez maior lá no fundo do meu coração.

Eu sofro agora em abstinência. Quando acho que estou bem, recuperado, a salvo, me deparo com a possibilidade de encontrar ela novamente e me afogar mais uma vez.

Senti o amor, o proferi da maneira certa, mas usei dele do jeito errado. Hoje me restam as marcas, os medos e os receios. Eu te digo, viva o amor, ame e permita-se ser amado, mas de maneira alguma — jamais — o deixe te possuir como uma droga.

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fernando
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Written by fernando

aqui eu tô sendo totalmente autoral, com textos, fotos e meus sentimentos. eu sou amador, vai com calma.

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